"Conceito dos Versos - Rimas - Métrica"

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO VERSO EM PORTUGUÊS

Você é quem escolhe, pode preferir futebol, pescar, ouvir ou tocar música etc porém se preferir poesias, você deve ter noção, de todos as coisas escritas aqui,  caso seja só um amante da poesia, como no futebol,  deve conhecer pelo menos as regras básicas deste esporte.  
Dando um passo adiante,  se pretende compor poesias, deve saber todas estas coisas escritas aqui de cor e salteado, cada letra, cada detalhe,  e quando pretender fazer uma poesia deve usar todos estes recursos, sem o que, 
você poderá ser tudo, menos um poeta... !!!

CONCEITO GERAL DE VERSO

 

Na prosa, a métrica a rima e o compasso são livres.

 

Na poesia, a métrica a rima e o compasso, são obrigatórios.

 

E é exata, e logicamente esta diferença que distingue a prosa da poesia.

 

Poesia não são pedaços de prosa, arrumadas as frases umas sobre as outras, isto, na maioria das vezes,

é um artifício usado por pessoas ignorantes, que tem grande vontade de ser poeta e não sabe como ...

 

Para maquiar o seu monstrengo literário, o pseudo poeta, intitula-se " poeta moderno " e

diz ser a sua poesia, uma " poesia moderna ", e criou o termo " verso livre", lido também por ignorantes, 

recebe aplausos; não caia no ridículo, aprenda a fazer corretamente uma poesia,  

neste site e nesta página você encontrará todas as dicas para isto.

Para ousar é preciso saber, para saber há que estudar. . .

 

Algum gênio, inventou o soneto, a redondilha, seja menor ou maior, o rondó,  etc invente você novas também

novas formas de construção, porém seja como seja, ela deverá ter:

Um esquema lógico, métrica, rima, compasso e bom gosto no tema ...

 

No verso tradicional, a medida e o ritmo são determinados por um sistema de metrificação.

 

A noção de metro pertence à língua, encarada como sistema. 

   

E a noção de verso pertence à fala encarada como meio concreto de transmissão de uma mensagem. 

 

O verso, portanto, resulta da realização de um metro, apresentando ou não variantes, 

pois o esquema métrico existe independentemente da sua realização pela palavra.

 

Num texto em prosa, com efeito, o ritmo e o número de sílabas de cada unidade sintática

 variam livremente, não obedecendo a nenhum esquema predeterminado. 

 

De fato, essa liberdade se condiciona, apenas, à disposição das unidades melódicas na frase. 

 

Em um texto em verso, ao contrário, o ritmo e o número de sílabas de cada unidade métrica 

obedecem a um esquema.

 

Verso, portanto, é uma sílaba ou sucessão de sílabas sujeitas à medida e ao ritmo.

 

A medida consiste num determinado número de sílabas métricas ou poéticas.

 

E o ritmo resulta de urna distribuição cadenciada e harmoniosa de acentos tônicos.

 

Assim, a sensação rítmica se percebe através do retorno da sílaba tônica, após intervalos regulares.

Ex.:

 

No berço pendente de ramos floridos,

Em que eu pequenino feliz dormitava,

Quem é que esse berço, com todo o cuidado,

Cantando cantigas, alegre embalava?

(Casimiro de Abreu)

 

Considerando-se que o indica sílaba átona e ó sílaba tônica, os versos apresentam a seguinte estrutura:

o ó o o ó o/ o ó o o ó o

 

Representemos por S.T. as sílabas acentuadas ou tônicas e por S.A. o número de sílabas átonas dos intervalos regulares. Assim: S.T. = 2ª, 5ª, 8ª, e 11ª sílabas. 

E S.A. = 1ª,3ª,4ª, 6ª/7ª,9ª,10ª,12ª. 

 

Há, como se vê entre as sílabas tônicas de cada verso, intervalos regulares. 

1,2,1/1,2,1

 

E esse fato é que produz a sensação rítmica sempre assegurada pelo retorno da sílaba tônica, 

após esses intervalos regulares. 

 

Isto é poetare, ou fazer poesia.

 

Escrever lindas frases, umas em cima das outras, parecendo mesmo um "soneto" ou "quadra"  na forma,

 e não conseguindo executar este fenômeno, fica por lógica determinado, que, a obra não é uma poesia,

pode ser lindo, sentimental, porém não será poesia, e eu diria mais, mesmo que rime, não será poesia ...!!!

 

No caso acima, há quatro acentos dominantes em cada verso, sendo dois em cada hemistíquio.

            (Hemistíquio = metade de verso.) 

 

Mas, além da medida e do ritmo, que são os elementos essenciais do verso,

 nele pode haver outros elementos subsidiários, tais como: rima, aliteração e as sonância.

 

Procuremos caracterizá-los, por enquanto sumariamente:

Rima é uma coincidência de fonemas, geralmente a partir da última vogal tônica de cada verso,

 como se verá em capitulo próprio. 

 

Observe-se, porém, que há versos sem rima, chamados brancos ou soltos, como os exemplos indicam,

estes versos sem rima, brancos ou soltos, se intercalam entre os outros para formar o poema ou poesia,

ainda assim, eles obedecem as mesmas regras dos demais, principalmente a métrica.

 Tem eles mais do que tudo, forma fixa.

 Só lhes falta rima.


Aliteração (fenômeno de harmonia imitativa) é a repetição da mesma consoante no início, 

no meio ou no fim de vocábulos sucessivos, ou mesmo em vocábulos não sucessivos, 

mas simetricamente dispostos.

 

De um ponto de vista ortodoxo, somente se verifica aliteração quando o mesmo fonema

 se repete no inicio de vocábulos sucessivos. 

A teoria literária moderna, entretanto, ampliou o conceito de aliteração, como vimos,

 e como é natural. Assim, havendo harmonia imitativa, existe aliteração. Ex.:

Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias de violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vás, vulcanizadas.

(Cruz e Souza)

No caso, observe-se o fenômeno de aliteração das consoantes: [v], [l], [s] e [z], 

sugerindo o vozear aveludado das vozes. 

 

Tais consoantes aparecem, como se nota facilmente, no início, no meio e no fim dos vocábulos.

 

Diz-se que há coliteração quando as consoantes que se repetem são homorgânicas,

 uma surda e outra sonora. Ex.:

Com grandes golpes bato à porta e brado:

( Antero de Quental )

 

No caso, observe-se o fenômeno de coliteração de toda a série de consoantes oclusivas: [p], [b], [t], [d] ;

  sugerindo o ruído repetido de golpes na porta.

 

Assonância é um fenômeno de homofonia vocálica, repetindo-se determinada vogal

 para obtenção de certos efeitos de sonoridade expressiva. Ex.:

O         trilo dos grilos, tímido,

 de aço fino, 

esgrime, com o raiozinho dos astros, límpido,

 argentino.

(Murillo Araújo)

 

No caso, observe-se a assonância vocálica do [i], sugerindo o ruído agudo do cricrilar dos grilos,

 entre outros fenômenos de estilística fônica.

           

A contagem silábica. Os encontros vocálicos

 

Escandir um verso é separar e contar as suas sílabas métricas, não sendo o mesmo que metrificar. 

 

Somente o poeta metrifica, no momento em que está compondo o verso. 

 

As sílabas métricas não são contadas pelo critério gramatical, mas pelos tempos de enunciação do verso. 

 

Assim, no exemplo abaixo, podemos verificar a diferença da contagem gramatical para a contagem métrica:

Pois eu gosto de crianças!

Já fui criança, também...

Não me lembro de o ter sido;

Mas só ver reproduzido

O         que fui, sabe-me bem.

 

É como se de repente

A minha imagem mudasse

No cristal duma nascente,

E tudo o que sou voltasse

A pureza da semente.

(Miguel Torga)

 

Na primeira estrofe, com exceção do terceiro verso, os demais apresentam a mesma divisão silábica, 

coincidindo a contagem gramatical com a contagem métrica.

 

No terceiro verso, ocorre sinalefa no encontro dos vocábulos: de e o, havendo apenas uma sílaba métrica,

 embora existam aí duas sílabas gramaticais. 

 

Na segunda estrofe, por sua vez, o segundo e o quarto versos, igualmente, 

não apresentam coincidência entre a contagem métrica e a contagem gramatical. 

 

Com efeito, no segundo verso, ocorre elisão da vogal a em: minh (a) imagem.

 

No quarto verso, elisão da vogal átona o em:

tud (o) o. 

 

Os demais versos apresentam coincidência entre a contagem gramatical e a contagem métrica.

 

O tratamento dos encontros vocálicos, portanto, reclama cuidados especiais na contagem silábica dos versos.

 

Veja mos, pois, os diferentes casos de encontros vocálicos, que podem ser intervocabulares ou intravocabulares:

             

São encontros vocálicos intervocabulares:

  

Hiato: encontro de duas vogais, uma no fim de um vocábulo e a outra no inicio do vocábulo seguinte. Ex.:

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta...

(Castro Alves)

  

Sinalefa: ditongação ou tritongação intervocabular. Ex.:

Ouvia-se um triste chorar de arapongas

(Castro Alves)

 

Tomba a névoa da tarde. O ar sereno enlanguesce

(Tasso da Silveira)

  Elisão: supressão de uma vogal átona. Ex.:

Talvez um(a) orquestra

(Castro Alves)

   Crase: fusão de dois sons vocálicos iguais, sendo átono o primeiro e tônico o segundo. Ex.:

A árvore pulsa, no primeiro assomo

(Olavo Bilac)

 

Observação: Somente ocorre o fenômeno da crase, entre duas vogais idênticas e contíguas, 

quando a segunda é tônica, pelo menos na versificação moderna.

Nos fins da Idade Média, por influência espanhola, retorna à versificação portuguesa,
 como se pode ver nas composições do Cancioneiro Geral, de Garcia de Rezende.
           
Versas de doze sílabas (alexandrinos e dodecassílabas):
 
O verso de doze sílabas (alexandrino) pode ser considerado como a junção de dois versos de seis sílabas,
sendo o primeiro de terminação grave ou aguda.
 
Divide-se, portanto, em duas metades ou dois hemistíquios,
 sendo a sexta sílaba do alexandrino sempre acentuada. 
Verso de origem francesa (Romance de Alexandre, de Lambert le Tort,
 Alexandre de Bernay e Pierre de Saint-Cloud), nêle não há vocábulos esdrúxulos na ligação dos hemistíquios
 
Em nossa língua, alguns poetas se afastaram dessa norma, como em espanhol e italiano. 
 
Em francês, a regra se mantém normalmente, por não haver vocábulos proparoxítonos naquela língua.
Há dois tipos de verso alexandrino:
           
Alexandrino agudo - Quando a sexta sílaba do primeiro hemistíquio é um monossílabo tônico ou a
última sílaba de um vocábulo poeticamente oxítono
o segundo hemistíquio começa por vogal ou consoante, indiferentemente. 
 
No caso, a justaposição do segundo hemistíquio é livre. Exemplos de Olavo Bilac:
"Tô / da / , num  / só /  o / lhar, /  de / vo / ran / do as / es / trê / las". 
 
Observe-se que a sexta sílaba é a última de um vocábulo poeticamente oxítono,
  iniciando-se por consoante (podia iniciar-se por vogal) o segundo hemistiquio;
 "Que mo / rre ... e / nun / ca  /  mais, /  nun / ca / mais /  há / de / vê / -las". 
 
Observe-se que a sexta sílaba é um monossílabo tônico, iniciando-se por consoante  
(podia iniciar-se por vogal) o hemistíquio seguinte.
           
Alexandrino grave - Quando a sexta sílaba do primeiro hemistíquio  
for a tônica de um vocábulo poeticamente paroxítono, este vocábulo deve terminar em vogal,
  começando por vogal o vocábulo seguinte, ocorrendo elisão ou sinalefa na ligação dos hemistíquios
 
Nesse caso, a técnica reclama cuidados especiais, como se vê neste exemplo de Olavo Bilac:
"Mu / gem  / so / tur / na / men / te as / á / guas. / O / céu / ar / de". 
 
Observe-se, com efeito, que a sexta sílaba é a penúltima de um vocábulo poeticamente paroxítono, 
que termina em vogal, começando por vogal o vocábulo seguinte. 
 
Na ligação dos hemistíquios, ocorre sinalefa.
 
Aí estão os dois tipos de verso alexandrino
 
Românticos e simbolistas, entretanto, recriaram e difundiram um tipo raro
de verso de doze sílabas poéticas, ge ralmente agrupadas quatro a quatro. 
 
Ou seja: grupam - se três versos de quatro sílabas,
  suprimindo-se a ligação dos hemistíquios do alexandrino normal. 
Exemplo de Tasso da Silveira, apresentando acentuação na 4ª, 8ª e 12ª sílabas:
"A / por / ta hu / mil / de / do  /  con / ven / to / fran / cis, / ca / no
Dan / te, /  can / sa  / do e / su / cum / bi / do,/  vai / ba / ter..."/
 
Há, por fim, o chamado alexandrino espanhol, também resultante da junção de dois versos de seis sílabas,
  mas sem observar a técnica francesa na ligação dos hemistíquios
 
Assim, o alexandrino espanhol se torna um verso hipermétrico de treze sílabas ou mais,
  como nos mostra o seguinte exemplo de Murillo Araújo, que apresenta a particularidade
  de contar sempre com um proparoxítono no fim do primeiro hemistíquio,
  elevando-se a quatorze o número de sílabas em cada verso:
INVOCACÃO
Lu / a e / le / va / da, /  lim / pi / da /... trê / mu / la e / ta / ci / tur / na,
és  / lu / a, a / gar / ça o / lím / pi / ca,  /  pás / sa / ro / da / i / lu / são! /
Lu / a, és / po / li / da e / diá / fa / na  /  ... Pla / ca es / pe / lhar / no / tur / na,
ser / ves           / de es / pe / lho  / má / gi / co / pa / ra a / Sau / da / de! / não? /
Lu / a  / de / pai / na al / ví / ssi / ma /   pai / na a / flo / rir / so / tur / na,
que ar / mi / nhos  /  teus  / le / vís / si / mos /  ho / je / me / a / fa / ga / ráo?
Lu / a  / de / so / nho e / már / mo / re /  Bran / ca e  / ine / fá / vel /  ur / na,
der / ra / ma / -me o / teu / bál / sa / mo! /  Tra / ze / -me a / so / li / dão /
 
Vejamos, em seguida, um exemplo de alexandrino espanhol com doze ou treze sílabas,
  caso mais normal:
En / fer / mos / e / fe / ri / dos / en / ten / di / a / cu / rar /
con / tra a  / le / tra / da / lei. / Não / pá / ra a / í / o hor / ror /...
Res / sus / ci / ta / va os / mor / tos /  e / sse / vil / im / pos / tor, /
to/ mal  / va  /  no / mes /  fal / sos / e / faí / sas / qua / li / da / des
e, er /  ran  / do o / ra / nos / cam / pos, / o / ra / pe / las /  ci / da / des 
ou / vi / am / -no  /  di / zer:  / "Po / deis  /  me a / com / pa / nhar!" /
(Castro Alves)
            Versos de mais de doze sílabas e versos amétricos
 
Além do verso de doze sílabas, embora mais raros, 
pode ainda haver versos de treze a vinte sílabas, com ritmo misto. 
 
Tais versos longos resultam da junção de versos menores. 
Por outro lado, há versos amétricos, que não apresentam medida fixa.
  É o caso do antigo verso de arte maior, verso basicamente formado de dois hemistíquios de seis sílabas, pois resulta da junção de dois versos de redondilha menor. Trata-se de um verso acentual,
caracterizando-se pela existência de dois acentos em cada um dos hemistíquios que possui.
  
Esquema do verso de arte maior, em sua forma paradigmática: o ó o o  ó o / o ó o o ó o.
 
Dessa forma paradigmática, em ritmo anfíbraco, é que surge o nosso hendecassílabo moderno, 
como verso regular, apresentando acentuação predominante na 5ª  e 11ª sílabas. 
 
No caso do verso de arte maior, tipicamente acentual, o que importa é a existência de dois acentos em cada hemistíquio, variando o número de sílabas métricas. De fato, as sílabas átonas iniciais ou finais dos hemistíquios podem existir ou não. Assim, o verso pode apresentar de nove a onze sílabas.
 
Estas são algumas noções de PRINCÍPIO FUNDAMENTAIS DOS VERSOS EM PORTUGUÊS, 
base primária para entender-se, porque Camões, Bilac, Castro Alves e outros poetas,
  eram gênios da língua  e MESTRES DA POESIA.
 
 

 

CONCEITO GERAL DA RIMA

RIMAS
Rima é uma conformidade ou coincidência de fonemas,
 geralmente a partir da última vogal tônica de cada verso. 
 
Outra informações sobre rimas, no link deste site,
A MAGIA DOS SONETOS / RIMAS, ALMA DOS SONETOS.
 
Os versos, quanto à rima, podem ser: consoantes, assonantes ou soltos, conforme os exemplos:
   
Exemplo de rimas consoantes:
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas;
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
(Olavo Bilac)
 
No exemplo acima, a coincidência de fonemas é perfeita, a partir da última vogal tônica:
 belas procelas e amigas antigas.
 
Exemplo de rimas assonantes:
  São ondas mesmo ou bailarinas?
São ondas mesmo ou raparigas?
(Augusto Frederico Schimidt) 
             
RIMAS QUANTO AO ACENTO TÔNICO
 
Quanto ao acento tônico, as rimas podem ser:
 Aguda ou masculina, quando os vocábulos em rima são oxítonos,
 tipo não predominante em Português. Ex.:
 
Era       uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão,
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada 
Em certa noite de verão.
(Machado de Assis)
 
No caso, são agudas as rimas do segundo com o quarto verso: Indostão e verão.
            Grave ou feminina, quando os vocábulos em rima são paroxítonos, tipo predominante em Português,
 que é língua de ritmo trocaico ou grave. Ex.:
 
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
( Cruz e Souza )
 
No caso, são graves todas as rimas do quarteto: escuro com puro, e deveres com saberes. 
Aliás, nos sonetos de Cruz e Sousa, todas as rimas são sempre graves, ajustando-se bem ao ritmo predominantemente trocaico de nossa língua. 
 
Nos Lusíadas, Camões escreveu 8.616 versos, apresentando apenas 471 com rimas agudas. 
 
Os números são eloqüentes, indicando a predominância da rima grave 
ou do verso de base paroxítona em nossa língua.
  
Esdrúxula, quando os vocábulos em rima são proparoxítonos,
 tipo pouco freqüente em nossa língua.
Ex.:
 
Solar de luz de escadarias mágicas!
palácio claro! ergui-te a tanto esforço 
que as tuas salas me parecem trágicas
e o teu zimbório pesa-me no dorso!
  (Murilo Araújo)
 
No caso, são esdrúxulas as rimas do primeiro com o terceiro verso: mágicas e trágicas.
           
Rima completa e rima incompleta
 
Quanto à estrutura fonológica, a rima pode ser completa ou incompleta
É completa (rima consoante), quando a homofonia é, ao mesmo tempo, vocálica e consonântica,
 a partir da vogal tônica. Ex.:
 
Vai-se a primeira pomba despertada
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
(Raimundo Correa)
 
No caso, despertada rima com madrugada, e dezenas rima com apenas,
 não havendo coincidência das consoantes de apoio da vogal tônica. 
 
Aliás, quando se verifica essa coincidência, há certa monotonia nas rimas,
 como se vê neste exemplo de Goulart de Andrade,
 aliás pouco seguido nessa inovação de origem francesa:
 
De pé, no promontório, encravado na bronca 
penedia, onde o mar atropelado ronca, 
ribomba, estoura, estruge, espouca, estronda, esbarra, 
abandonado avulta o vigia da barra!
Õ naus, podeis entrar! Podeis vir, exilados 
peixes que leis buscar abrigo em outros lados
 
Veja-se ainda este exemplo de Alberto de Oliveira:
Outrem é que devia ser o eleito, 
Não eu, eu que a adorava antes de vê-la,
 Eu que a chamei chorando de meu leito ...
 
A rima é também completa quando a homofonia é só vocálica,
 por não haver consoantes após a vogal tônica. Ex.:
Amo-te, ó cruz, até, quando no vale
 Negrejas triste e só,
Núncia do crime, a que deveu a terra
 Do assassino o pó
(Alexandre Herculano)
 
No caso, há somente homofonia vocálica na rima de só com pó.
 
A rima é incompleta quando há homofonia vocálica e diversidade nas consoantes,
 sempre a partir da vogal tônica (rima assonante) . Ex.:
Em       minha mão, mais fresca que uma concha
suspende aos olhos do Senhor
as lágrimas de fel da pobre monja
que amou demais o seu amor.
(Guilherme de Almeida)
 
No exemplo acima, os vocábulos concha e monja apresentam homofonia vocálica:
 [ õ ] e [ a ] com diversidade de consoantes.
 
Quando há homofonia consonântica e diversidade vocálica, a rima também é incompleta. Ex.:
Do século das letras lusitanas,
e nas páginas férteis dos latinos.
(Almeida Garret) 
 
No caso, os vocábulos lusitanas e latinos apresentam homofonia consonântica: 
 [ t ], [ n ], e [ s ] mas diversidade vocálica. Veja-se ainda este exemplo de Fernando Pessoa:  
Não só vinho, mas nele o olvido, deito 
Na taça: serei ledo, porque a dita ...
 
Além desses casos, há um tipo particular de rima incompleta, caracterizado pela variação da vogal tônica,
 e a que daremos o nome de rima contra-assonante em harmonia vocálica. Ex.:
No cais batido de ventos, 
os bêbados cambalearam
Nas ruas mortas, os bêbados 
entre sombras se perderam.
 
Tateantes, cansados, trôpegos, 
das angústias que beberam
os bêbedos, cambaleando, 
pelas estradas erraram.
 
Depois, caídos nas poças, 
nos valados, nas sarjetas, 
fundamente adormeceram.
 
O         mundo ficou distante,
as estrelas se apagaram.
E eles nada mais sofreram...
( Tasso da Silveira )
 
No soneto acima, em versos de redondilha maior, vocábulos em -aram rimam com vocábulos em -eram
variando a vogal tônica.
 

MÉTRICA

Em nossa língua, segundo a contagem usual em nosso ensino, há versos de uma a doze sílabas. 
São mais freqüentes os versos de redondilha menor (cinco sílabas); de redondilha maior (sete sílabas);
 
 o decassílabo (dez sílabas); e o alexandrino (doze sílabas) . 
 
Os versos de uma sílaba e os versos de mais de doze são raros. 
 
Nos de uma a sete sílabas, não há acentuação tônica interior em lugares fixos, 
ao contrário do que se verifica nos versos de oito a doze sílabas. 
 
Note-se ainda que os versos ímpares são nativos na versificação peninsular,
 enquanto os versos pares são importados. Exemplifiquemos:
            Versos de uma sílaba (monossílabos):
quebra
queima
reina
dança
sangue
gosma...
( Mário de Andrade )
 
Esquema dos versos: óo. Ritmo trocaico ou grave.
 
De fato, cada verso é uma célula métrica ou rítmica de duas sílabas. 
 
Por ai se vê que o abandono da sílaba átona final parte a célula poética no meio, 
não se ajustando bem o sistema francês à nossa versificação.
 
Temos que adotar tal critério, entretanto, por motivos de ordem didática.
Como curiosidade, veja-se ainda o seguinte soneto de Hilda Reis Capucci,
 todo ele em versos monossilábicos:
ANTE UMA JOVEM MORTA
Que
Linda!
E
Finda.
 
E
Pó!
Que
Dó!
 
Flor
Sem
Côr!
 
Jaz
Em
Paz!
 
Observação: Pela contagem espanhola, que tem como base o verso grave,
 nas terminações agudas se conta uma sílaba a mais. 
 
No verso de terminação esdrúxula, uma sílaba a menos. 
 
O critério de contagem silábica, assim, depende do ritmo acentual da língua. 
 
Se fôssemos adotar, como seria mais próprio, esse critério em Português, 
teríamos que acrescentar mais uma sílaba aos versos de terminação oxítona no soneto acima. 
 
Pela contagem francesa, em vigor entre nós, os versos do soneto são monossilábicos, 
abandonando-se as sílabas átonas finais.
            Versos de duas sílabas (dissílabos):
 
Também raros, imitam o ritmo da valsa, como neste exemplo de Casimiro de Abreu:
Na / val / sa
Que en / can / ta
Teu / cor / po
Ba / lan / ça.
 
Esquema: o ó o. Ritmo anfíbraco. Observe-se que o abandono da sílaba átona final,
 como preceitua a contagem francesa, quebra a unidade da célula métrica anfíbraca,
 que se caracteriza pela existência de uma sílaba tônica entre duas sílabas átonas.
 
 Na língua francesa, que é de ritmo iâmbico ou agudo, tal contagem é perfeitamente normal.
O mesmo não se dá, como vemos, em relação à nossa língua, que é de ritmo trocáico ou grave, 
como a espanhola. 
 
* Trabalho de pesquisa - Pinhal Dias
 

www.confradesdapoesia.pt