"BIOGRAFIA"

"Maria Mamede"

 
 
Maria do Céu Silva Fernandes; pseudónimo literário «Maria Mamede». Nasceu em 1947, na aldeia (hoje cidade) de S. Mamede de Infesta - Porto. Começou a escrever ainda era muito menina, pequenas histórias para contar a outras crianças  como ela, sempre inventava os versos e depois os finalizava. Sofreu influência de seu avô materno, repentista com algum talento que em novo tinha cantado ao desafio e seu Pai, que lhe ensinava a recitar (como se dizia na época) monólogos e lenga-lengas.
Mais tarde os livros, por quem sempre teve uma enorme paixão.
Fez parte de várias colectâneas; Além do Arco Íris - 1989; Noites de Poesia em Vermoim - 2005; O Porto em Poesia - 2005; DezSete - 2007; Antologia de Natal - 2007. É membro de "Confrades da Poesia" - Amora / Portugal

 

 
BIBLIOGRAFIA:
POESIA - Desencontro - 1977; Uma Mão Cheia de Nada - 1978; Palavras Gastas - 1994; Retratos - 2000; Pelas Letras do Alfabeto - 2001; Banalidades - 2003; Poemas Maiatos - 2004; Lume - 2006; CONTOS - Memórias da Minha Gente - 2004; Da Água Toda - 2010.
 
BLOG: http://noceuenaterra.blogspot.com/ - Email: maria.mamede@sapo.pt
 

 SÍLABAS
 
 

Sílaba a sílaba
crio palavras, cantantes
onde o amor venha beber
e nelas me debruço
em busca de nós...
mas sei que é tarde meu amor
embora me recuse
a aceitar o crepúsculo
sem o espellho d'água
dos teus olhos
prometendo eternas alvoradas!...
 
 
 
 
 
 
E POR FALAR EM OLHOS... (ainda)
 
deixo-te
descubro-me
outro lado de ti
sombra
noite
então fico
pássaro calado
bebendo
em teus olhos
a mágoa
da saudade

 
 
 
ÚLTIMA CARTA
 
Escrevi-te
como quem pedia água
de que nunca terás sede;
como quem dá
a certeza do Azul
nos dias mais cinzentos;
como quem se dá
na certeza
da troca
que nunca virá.
Escrevi-te
e chamei-te asa
como quem diz
nuvem
e disse viagem
como quem diz
rio
e fogo
e dor...
desta vez, porém
escrevo-te
e chamo-te
longe
como quem diz
lágrima
e despedida!...

 
 
BLANCAS MANOS
(em jeito de homenagem a Mercedes Sosa)

No tengo lo pelo negro
ni las mejillas salientes
tengo huellas en mi rostro
y en la luz de mis ojos
los rostros suficientes
de todos que amé y amo
iguales o diferentes...

no tengo lo pelo negro
pero mis manos tan blancas
son como dos golondrinas
vienen y van por el aire
de terciopelo vestidas
estas dos manos tan blancas
como niñitas dormidas!...


 
 
 
Mãe
 
Tuas mãos
sempre foram
a casa
o colo
a asa
o consolo...
húmus
rito
bálsamo
grito
corpo
e infinito!...


(do livro "MÃOS")
 
 
 
 
 
ESCRITO A QUENTE
 
Escrito a quente
nas veias
nas têmporas
nos pulsos
escrito a quente
corpo e alma
e o tormento da sede...
assim me sinto
e te sinto
na lonjura da saudade!...


 
 
 
PODE ATÉ SER...
(A um Amigo, do outro lado do mar)


Pode até ser que um dia, na esplanada
ou na varanda coração, escancarada
nos sentemos, olhando o pôr do sol
desfiando um rosário de lembranças...
pode até ser, meu Amigo, que a vida
nos deixe navegar, tara perdida
num raio de luz, feito de esp'ranças
que pelo mar se vai, ao arrebol!...



 
 
 
COMO FOSSE BARRO
 
Como fosse barro
amasso gotas de saudade
e giro, giro
nesta roda de ausência
enquanto
cozendo a dor
faço em pó
os desejos de afecto...
depois, embrulho em papel
de seda, colorido
meus beijos de bem querer
e entregando-os ao vento
vou por aí fora
à procura de Amanhãs!...

 
 

 
 
 
NÃO IMPORTA...
 
Não importa se és tu
a minha Alma Gémea
que há tanto procuro...
não importa
se meu coração
se confunde
de tanto esperar
essa, que me completa...
importa somente
que sejas quem fores
chegas na brisa dum desejo
e és bem-vindo
nos versos que te faço!...

 
 


 
MEU AMOR, MEU AMOR
 
Foste pão da minha fome
foste água da ribeira
foste mágoa, foste nome
foste fogo na lareira...
ai meu amor, meu amor
que esperei a vida inteira...

foste rio, céu de espanto
foste fonte, verde prado
foste bem-querer, foste tanto
foste amante, namorado...
ai meu amor, meu amor
que tempo tão sem cuidado...

foste esperança, foste vida
festa de amor, de carinho
e foste terra esquecida
e eu, pássaro sem ninho...
ai meu amor, meu amor
que perdi pelo caminho!...
AMOR
 
 
 
Não adianta!...
Nada adianta já!
Passou por mim correndo
atirou-se às ondas
e navegou, navegou
sem rota nem tempo certo...
se ancorou algures, não sei;
sei somente que deixou este cais
que sou
e partiu rumo ao ocidente
no encalço do sol.
Vieram estão as aves
que colocaram em meu regaço
em vez de lágrimas
conchas
e flores azuis
trazidas de longe!...

 
 
 
POEMA PRA DEPOIS
 
Quando um dia eu for
prado verdejante
no mar uma onda
nuvem no anil
quando a minha essência
for somente o instante
a rosa de maio
ou o cravo de abril
quando a minha dor
for lago sereno
ou um dia ameno
de suaves ais
poderei dizer-vos
eternos amores
já não terei dores
às do mundo iguais...
então meus Amigos
não choreis por mim
estarei feliz
por vos ter amado
a Paz suprema
terei alcançado
e terei regressado
ao pó de onde vim!...


 
 
 
NESTE MAIO...
 
No Maio deste ano
nada peço...
cansada
do verso e do reverso
das bolorentas promessas
de melhora
é com dor
que vejo ir embora
a esperança que tive
e que professo
mas crer, de verdade
já não posso;
e, perdoem que vos diga
nós sempre tivemos
"mais olhos que barriga"
e acreditamos porque queremos
no arranjo "por baixo do pano"
e valorizamos o engano
a mentira, o "dá-se um jeito";
quando se fará direito
o que entortamos?
E, olhe-se bem
aquilo que logramos.
Já passaram 35 anos!
Dos cravos nem se sabe
murchos todos
pelas promessas incumpridas
pelo pão que falta
em cada mesa;
que revolta me dá
e que tristeza
olhar os olhos de quem sofre
a rodos!
Culpados?
Somos todos
ao cair, uma vez mais no mesmo logro;
oxalá acordemos num recobro
de diferentes promessas
sem perjúrio
do verbo "ser igual"
a conjugar
que latente em mim
há um murmúrio
de tormenta
prontinha a REBENTAR!...

 
 
 
PRECE

Meu Senhor de toda a graça
que vejo em mia capela
quando vou ao povoado
me estou em muito cuidado
meu Senhor, pelo cavaleiro
que roubou meu coração...
Vós que sabeis meu segredo
meu Senhor da compaixão
valei-me que bem podeis
na mia grande aflição...
é que não sei novas dele
meu Senhor, donde será?!
Quem sabe se me amará!
Meu Senhor da Benta Mão
deitai mão ao meu amado
que me morro de cuidado!...


 
 
ABRIL DAS ÁGUAS MIL


Quando foi Abril, no tempo certo
de esperanças mil, de ideais
cada um de nós foi muitos mais
e Abril se abriu, foi tempo aberto...

quando se diss' Abril ao mundo inteiro
nesse Abril d'águas choveu flores
e arderam paixões, fogo de cores
nesse Abril, pra muitos o primeiro...

e choveu águas mil nos corações
águas de paz sem dor silente
águas dum futuro conquistado...

mas depois, só choveu desilusões
E o Abril, de novo mais descrente
é outra vez às águas condenado!...


 
 
ADÁGIO MEU...
 
Adágio meu, nos olhos e na alma
do coração nem falo, que a ternura
está pintada nesta tarde calma
que morre, como expira a criatura

neste leito de água que apodrece...

Adágio meu, o oboé que chora
por cima das águas da lagoa
é rouxinol cantando e leva embora
um adágio de amor que me atordoa

e é corda do meu ser, que estremece...

Adágio meu, tão meu e tão perfeito
escrito para mim que o amo tanto
por isso me pertence por direito
e ao escutá-lo, me desfaço em pranto;

Veneza é o Amor que se não esquece!...


 
 
 
LEGENDA
 
Leio-te na pedra das palavras
nos opostos conínuos
no dobrar das esquinas
onde o poema se escreve...
leio-te e espero
que a paz te visite
pela calada da noite
na saudade branca
das paisagens de neve!...

 
POSES
 
De pé
como uma árvore
ou um desejo
no silêncio das noites
sem sossego
de pé
no sonho
a que me apego
de pé na alma
sou no entanto
um barco na corrente
horizontal e crente
que o amor é luz
e que a viagem
não finda na paisagem
da chegada.
De pé
qual pórtico antigo
resto de borrascas colossais
e ao mesmo tempo
regato languescente
a deslisar
ciente
de que não volta mais!...
   

 
 
 

"CONFRADES DA POESIA"

www.osconfradesdapoesia.com