"BIOGRAFIA"

"Filomena Camacho"

 

«Poesia é a música da alma»

Filomena Gomes Camacho nasceu em Angola. Viveu em Portugal e, presentemente, reside em Londres. A sua primeira “publicação” foi uma carta, na revista Vida Abundante, quando tinha apenas dez anos de idade.
Em Portugal, teve a seu cargo, na revista Crónica Feminina, as páginas semanais “Diário de uma Refugiada” e “Como Começou”, com entrevistas, entre outros, a Nicolau Brayner, Herman José, Simone de Oliveira, Teresa Teles, Olga Cardoso, Orlando Dias Agudo… e aos saudosos Victor Mendes, Henrique Santana, Ivone Silva…
 
Mais tarde, foi redactora dos jornais O Homem e a Sociedade, Tribuna de Almada (página cultural), RDS-Jornal e Noticias do Seixal, onde também foi chefe de redacção.
Tem trabalho publicado na antologia poética "O grito frente ao mar".

Tirou:
Artes Plásticas
Curso Básico de Psicanálise.

Fundou a Associação «APROMADE-Associação para apoio a mães de toxicodependentes»
Participou como voluntária nos programas de:
Promotoria de Saúde
(projecto organizado pelo Dr. Batalheiro do Centro de Saúde da Cruz de Pau)
Alfabetização
(Quinta da Princesa, - Seixal)
Desafio Jovem
(Fogueteiro) 
É membro de: - “Confrades da Poesia”
Bibliografia:
Editou em 2009 um livro «Poemas Nossos»” 
 
Email: - anemag@hotmail.co.uk
 
SOU ANGOLANA
 
 
Sou mais Angolana que tu
porque em Angola vivi
numa terra bem pequena,
muito calma, mui serena,
sem nenhuma poluição,
porque ali a evolução,
não era progressiva,
nem regressiva...
 
Era apenas uma povoação,
onde não havia alcatrão;
nem luz de electricidade;
porque não era uma cidade.
 
Era uma terra pacata,
à volta muita cubata.
Muita mulemba gigante,
onde nós, a cada instante,
íamos em grupo brincar;
espigas de milho entrançar.
 
Falávamos o doce Quimbundo
naquele lugar, onde o Mundo
parecia ser mais Humano
e tudo mais Angolano!
 
Sou mais Angolana que tu
porque brinquei na cubata,
bebi kissangwa na lata,
comi mwamba com pirão,
em esteira estendida no chão.
Comi maboke docinho
e kambungo amarelinho!
 
De muito animal ouvi
a intrincada linguagem,
p'ra além da densa folhagem:
o silvo da cobra castanha,
muito esguia, muito estranha;
o urrar do bravo leão;
o pipilar do gavião;
das rãs, o coaxar,
nas noites lindas de luar!
 
A alva, eu vi romper,
o sol-pôr, ao entardecer.
Senti o doce odor
de cada silvestre flor…
…o cheiro da terra molhada
depois de cada chuvada!
 
Vi morros de salalé!
Vi moscas Tzé-Tzé!
 
Sou mais Angolana que tu:
porque senti... 
e vivi...
mais felicidade
que tu,
menina da cidade!
 
 
 
SER POETA
 
 
Ser poeta
é  saber amar muito mais!
É dar as mãos
e percorrer, sem limites, o irreal!
 
Ser poeta
é saber dançar a melodia do vento
envolto num manto de neblina.
 
É exaurir o perfume do mar
e espalha-lo no infinito…
 
Ser poeta
é saber amar muito mais!
É  tocar o cume do enlevo…
 
É,  com as cores do arco-íris,
no azul do céu, uma flor pintar…
 
 
 
 
POEMA AO TEJO
 
 
Hei-de voltar
p'ra me deleitar,
expectante,
na limpidez do Tejo,
reflectindo
as luzes multicolores
de neons, estrelas, arrebol…
Hei-de voltar
p'ra viver o encanto
etéreo, sedutor...
E, apaixonadamente,
exaurir
esta saudade imensurável...
Hei-de voltar
p'ra sentir o sol, de Verão,
a mordiscar a pele…
Sentir o cheiro da maresia…
O odor tonificante da bica...
E, numa simbiose musical,
escutar:
- O riso da criançada…
- O assobio de quem passa…
- O latido da cachorrada…
 
AO PEQUENO AMIGO DOÇURINHA
 
 
"Doçurinha" apareceu
numa tarde de neblina,
igualzinho a um raio de sol!
Um raiozinho de sol
que deu luz, cor… à natureza.
E, da tarde triste de neblina,
como que d’um toque mágico,
fl uiu encanto, beleza, amor!
Então,
tudo ali foi esplendente!
Tudo ali se transformou!
O triste ciciar das folhas
e o triste canto do vento,
transformaram-se em melodia!
Eu afi rmo, parecia
vindo das harpas celestes,
d'algum castelo de nuvens
onde habitam lindas fadas!
Quando "Doçurinha" apareceu,
o Inverno, em Londres, fl oresceu!
 
 
 
 
AO MEU PEQUENO AMIGO ÍNDIO
 
A ti,
meu amigo, meu irmão,
que conheces da Natureza
a imensidão,
e tens como lar
a vastidão…
A ti,
que na alma sentes,
o ósculo da brisa,
do sol, do luar…
Quero contigo aprender
e compreender:
- a cor dos sons
- o riso da chuva
- o choro do fogo
- a textura do vento!
Quero contigo aprender,
meu amigo, meu irmão,
que, quando o dia decai,
e a noite sobressai:
plangente,
negra,
melancólica…
Também saiba desvendar
e contemplar,
mistérios da Terra-Mãe.
Quero contigo aprender
meu amigo, meu irmão,
a abraçar o infinito,
num amplexo,
de amor e expectação,
misturados,
transbordados…
Num cálice de louvor
ao nosso Deus criador.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIAGNOSTICANDO
 
 
tu,
que por detrás da secretária
ouves,
em solene beatitude
ou num misto de paciência
e impaciência,
o queixume do moribundo que,
com ar grave e profundo,
procura descrever o que sente
(e quantas vezes ele mente!),
buscando em ti ansioso
e animoso procurando no teu olhar,
no teu gesto e simpatia
(porque em ti confia):
a saúde, a vida que tanto queria…
Ou, então, a condenação
de transpor, enfim,
o tremendo trampolim
para esse mundo
onde o silêncio é profundo,
de insondáveis arcanos,
no qual os anos,
os meses,
não têm contagem…
E tu, com implacável coragem,
vais ouvindo
e, sorrindo,
diagnosticando…
num misto de paciência
e de impaciência:
"Esquizofrenia"
"Cem por cento de fobia"
"Isto é uma hipocondria"...
Ou, então,
com cem por cento de razão,
preconizas,
conforme a gravidade...
(se o mal é outro e maior):
"Um breve passaporte,
só com ida... para a MORTE!"

 

 
 

"CONFRADES DA POESIA"

www.confradesdapoesia.pt